quinta-feira, 1 de junho de 2023

Diga o Que Quiser! Eu Vou Ser Feliz à Beça! - resenha de filme

     Ainda sob efeito da comoção com o que assisti, faço este registro pra recomendar fortemente Diga o Que Quiser! Eu Vou Ser Feliz à Beça! e prestar minha calorosa reverência ao realizador, meu colega de turma na faculdade Renato Candido - sim! Pra minha alegria, e pro bem do audiovisual brasileiro, mais um ótimo filme de alguém que tive a alegria de testemunhar seu início de luta artística.



    Renato já realizou médias-metragens e este seu 1º longa é um documentário sobre Daniel Marques, cativante e inquieto artista preto e periférico que conheceu em um sarau na periferia, ocasião em que trocaram diversas ideias e intenções de projetos futuros - os quais sequer puderam ser iniciados, pois Daniel cometeu suicídio poucos meses depois, aos 28 anos de idade.

    Sem limitar a narrativa num esquema cronológico ("nasceu, estudou, fez isso, depois aquilo..."), e, também, sendo o personagem principal alguém que partiu tão jovem, o filme celebra Daniel através dos depoimentos da mãe e dos amigos com quem ele partilhava e promovia a militância cultural. Com declarações bastante sinceras e à vontade, transparece dos relatos a presença de uma pessoa que conseguia acender o melhor de cada um, provocando os "incômodos certos" pra fazer com que conquistassem a própria voz e posição - uma atitude pra lá de importante num contexto de periferia, em que seus integrantes são constantemente relegados, calados e apagados. As entrevistas são entremeadas por registros de atuações de Daniel, onde se vê seu brilho e vibração artística, que dialogam sensivelmente com o ponto dos depoimentos e, também, com performances inspiradas nas suas ideias.
    Escutar tantos testemunhos queridos também faz brotar em quem assiste a estima pela companhia de Daniel, de tal forma que a abordagem do suicídio bate como uma perda próxima - e é por isso que continuo comovido (e pretendo continuar). As pressões sociais e econômicas que muito contribuíram para a sua depressão são vividas por muitos, mas esmagam muito mais cruelmente as minorias.
    Quantos outros periféricos passam pelo mesmo quadro e por que tão pouco é feito em termos de tratamento e prevenção são as questões levantadas pelo filme - para as quais sabemos respostas, mas com as quais não se deve conformar jamais.
    Alguém capaz de dirigir olhares únicos para as pessoas também precisava de um olhar cuidadoso. Além da denúncia, fica também esse estímulo do filme, para o cultivo do olhar mais atencioso e interessado como o praticado por Daniel em sua vida.
    Perdão, Renato, por escrever algo que, talvez, mais desencoraje do que estimule assistir ao filme, mas sempre é hora de sair do escapismo e da inércia, e seu filme realmente consegue isso.
    Muito obrigado por este trabalho...

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